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Foto do escritorDaniel Hidalgo

Entendendo as possíveis complicações após a cirurgia do ligamento cruzado anterior

Atualizado: 3 de mai. de 2024

Como médico ortopedista com foco de atuação em Cirurgia do Joelho e Artroscopia, tenho o privilégio de ajudar pacientes a recuperar a mobilidade e qualidade de vida após lesões no ligamento cruzado anterior (LCA).

Existem vários textos aqui no meu site e vários vídeos no meu canal do YouTube sobre esse tema.


A cirurgia de reconstrução do LCA é um procedimento eficaz, que visa restaurar a estabilidade da articulação, mas como qualquer cirurgia, não está isento de complicações. Nesta postagem, vou discutir algumas complicações que podem ocorrer após a cirurgia de reconstrução do LCA e como podemos lidar com elas.


Alteração de sensibilidade na parte da frente da perna

A alteração de sensibilidade na parte da frente da perna é uma das complicações mais frequentes relacionadas ao procedimento cirúrgico. Ela pode ocorrer por conta da lesão de um nervo muito pequeno, que passa bem próximo ao local de retirada do enxerto, quando a técnica utilizada é a de reconstrução com os tendões flexores (grácil e semitendíneo). Trata-se dos ramos terminal e infrapatelar do nervo safeno. São várias as fontes na literatura que comentam esse tipo de lesão, que pode ocorrer em até 85% dos casos, segundo o estudo publicado por Inderhaug e colaboradores.

Essa alteração geralmente acomete uma área na parte da frente da perna e costuma melhorar após a cirurgia. A maioria dos pacientes que confirmam essa alteração não se incomoda com a área de diminuição de sensibilidade.

A imagem abaixo é um desenho da área que pode ser afetada:

Desenho esquemático da área correspondente à sensibilidade do ramo infrapatelar do nervo safeno.
Desenho esquemático da área correspondente à sensibilidade do ramo infrapatelar do nervo safeno direito.

Infecção

A cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior é realizada, na maior parte das vezes, em pacientes jovens com poucas ou nenhuma doença crônica e que têm um estilo de vida voltado à prática esportiva. Além disso, trata-se de uma cirurgia pouco invasiva, já que é realizada por via artroscópica, ou seja, por vídeo.

Tais fatores, tornam o risco de infecção relacionada ao procedimento cirúrgico baixo. Apesar de ser uma complicação temida e de tratamento bastante desafiador, as taxas de infecção variam na literatura, ocorrendo em menos de 1% dos casos, segundo alguns estudos.

De qualquer maneira, várias medidas são tomadas para diminuir o risco desta complicação, tais como antissepsia e assepsia pré-operatórias, uso de antibiótico preventivo, orientação quanto aos cuidados com os curativos, entre outras.


Sangramentos e hematomas

Por se tratar de um procedimento pouco invasivo, feito por vídeo, sangramentos importantes não são comuns durante a reconstrução ligamentar. Contudo, são descritos na literatura.

Hematomas, principalmente na região posterior da coxa e do joelho, são comuns e ocorrem devido à retirada dos enxertos flexores.


Trombose

O tromboembolismo venoso ou a trombose venosa profunda dos membros inferiores também é uma complicação descrita após procedimentos ortopédicos. O problema pode ocorrer pela diminuição na capacidade de mobilização do paciente no período após a cirurgia e pelo trauma tecidual decorrente das lesões ortopédicas e da cirurgia em si.

Felizmente, o risco para o desenvolvimento de tromboembolismo venoso após a cirurgia de reconstrução do LCA é baixo e várias medidas são tomadas para mantê-lo baixo, como caminhar precocemente após a cirurgia, realizar fisioterapia motora, estimular o paciente a mexer as articulações e músculos dos membros inferiores, o uso de meias elásticas de compressão e a prevenção medicamentosa quando houver indicação.


Rigidez articular ou artrofibrose

A reconstrução do ligamento cruzado anterior é uma cirurgia que, embora seja eficaz para restaurar a estabilidade do joelho, em alguns casos pode provocar uma diminuição da mobilidade articular. Certos fatores podem predispor o surgimento dessa rigidez após a cirurgia, como não ter toda a amplitude de movimento do joelho antes da operação, o início tardio da fisioterapia, a necessidade de imobilização após o procedimento naqueles casos em que, além do ligamento cruzado anterior, outros ligamentos são reconstruídos, cicatrização exacerbada dentro da articulação, entre outros.

Seguir as orientações pós-operatórias é muito importante para que esse risco diminua, tais como caminhar precocemente (com ou sem o auxílio de um par de muletas), começar logo a fisioterapia, um bom controle da dor, manipulação articular, entre outros. Vale ressaltar que a melhor pessoa para fornecer essas orientações ao paciente é o(a) médico(a) que realizou o procedimento cirúrgico.

O tratamento da rigidez articular normalmente é realizado com reabilitação e com as medidas citadas acima, mas em casos selecionados, pode haver a necessidade de uma manipulação mais intensa sob anestesia geral ou até a remoção do tecido cicatricial através da cirurgia artroscópica.


Fraqueza muscular


paciente em reabilitação após a cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior

A fraqueza muscular no membro inferior operado é bastante comum após a cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior. Ela ocorre por alguns motivos, entre eles pela grande inibição muscular provocada tanto pela lesão do ligamento quanto pelo próprio procedimento cirúrgico em sim, pela retirada do enxerto utilizado para a reconstrução, pelo processo inflamatório, etc. Esta fraqueza é facilmente notada algumas semanas após a ruptura do ligamento em que o paciente percebe uma diminuição de massa muscular na parte da frente da coxa, onde fica o músculo quadríceps.

Para tentar diminuir a perda de massa muscular, a reabilitação com fisioterapia tanto antes quanto depois da cirurgia é muito importante.


Dor no joelho

A dor no joelho após a cirurgia de reconstrução do LCA é relativamente comum. Ela pode ter várias causas, mas a principal delas é a sobrecarga da parte da frente, das estruturas que formam o mecanismo extensor do joelho. Essa sobrecarga ocorre por um desequilíbrio muscular, caracterizado principalmente pela fraqueza do músculo quadríceps, localizado na parte da frente da coxa. Nos casos em que o tendão patelar é utilizado como enxerto, a dor na parte da frente do joelho pode ter relação com a retirada do enxerto, já que dois plugues ósseos, um da patela e outro da tíbia, são retirados. Nessa situação, o paciente costuma sentir certo incômodo ao se ajoelhar.

Apesar de relativamente comum, a dor no joelho pode ser aliviada com a abordagem correta para que o paciente retome uma vida ativa e saudável. A chave para o sucesso está em seguir o plano de reabilitação, realizar exercícios de fortalecimento e buscar orientação médica quando necessário. Lembre-se de que cada pessoa é única, e o tratamento deve ser adaptado às necessidades individuais. Com paciência e cuidado, é possível superar a dor e retomar suas atividades favoritas.


Instabilidade

A instabilidade após o procedimento ocorre quando um paciente ainda percebe uma sensação de falta de firmeza ou segurança no joelho. Isso pode ser atribuído a vários fatores, incluindo fraqueza muscular, não integração do enxerto utilizado, novas rupturas ligamentares, novas lesões de meniscos, entre outros.

Felizmente, o mais frequente é que a sensação de instabilidade tenha relação com a fraqueza muscular, o que é corrigido com fisioterapia adequada.

Outros motivos de instabilidade residual devem ser investigados individualmente para que o tratamento correto seja proposto.


Artrose

A artrose é uma condição degenerativa das articulações que ocorre quando a cartilagem protetora nas extremidades dos ossos se desgasta gradualmente. Isso pode levar a dor, inchaço e limitação das funções das articulações afetadas, e pode ser bastante debilitante.

A artrose do joelho é uma possível complicação tardia relacionada à lesão do ligamento cruzado anterior, principalmente se o paciente tiver, além da lesão ligamentar, outras lesões concomitantes, como dos meniscos e da cartilagem articular.


imagem ilustrativa comparando um joelho saudável com a artrose
Imagem ilustrativa: joelho saudável vs joelho com artrose

Algumas medidas podem ser tomadas para diminuir o risco do surgimento precoce da artrose ou da sua velocidade de progressão, como um controle de peso adequado, evitando-se sobrepeso ou obesidade, e a prática regular de atividades esportivas, preferencialmente com pouco impacto.


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Dr. Daniel Hidalgo Gonçalez

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