É possível voltar a praticar esportes após a lesão do ligamento cruzado anterior do joelho?

Como médico ortopedista com foco de atuação em Cirurgia do Joelho e Artroscopia, tenho o privilégio de ajudar pacientes a recuperar a mobilidade e qualidade de vida após lesões no ligamento cruzado anterior (LCA).

Existem vários textos aqui no meu site e vários vídeos no meu canal do YouTube sobre esse tema.

A lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho é uma das mais temidas por atletas e praticantes de esportes. Localizado no centro da articulação do joelho, o LCA é responsável por estabilizar a perna ao evitar que a tíbia (osso da perna) se mova excessivamente em relação ao fêmur (osso da coxa). Quando lesionado, o que ocorre normalmente por um movimento brusco ou torção do joelho, o impacto na mobilidade pode ser significativo.

No entanto, para muitos que sofrem essa lesão, a grande pergunta é: é possível voltar a praticar esportes após romper o LCA?

O Papel da Cirurgia e da Reabilitação

Em casos de lesão completa do LCA, ou naqueles casos em que a lesão é parcial, mas também provoca grande instabilidade do joelho, a cirurgia de reconstrução ligamentar é frequentemente necessária, principalmente para aqueles que desejam voltar a atividades físicas de alta intensidade. O procedimento envolve a substituição do ligamento rompido por um enxerto, que pode ser retirado de outra parte do corpo (como tendões do próprio joelho) ou de um doador.

Após a cirurgia, a reabilitação é um componente essencial para o sucesso do retorno ao esporte.

O processo de recuperação inclui fisioterapia intensiva e pode durar de 6 a 12 meses, dependendo de fatores como a condição física inicial do paciente, se há lesões associadas ao rompimento do ligamento e o comprometimento com os exercícios de fortalecimento.

A Importância do Fortalecimento Muscular

Um dos aspectos mais importantes no retorno ao esporte após a lesão do LCA é o fortalecimento dos músculos ao redor do joelho e do quadril, especialmente o quadríceps (músculo da parte da frente da coxa) e os isquiotibiais (músculos da parte de trás da coxa). Esses músculos atuam como estabilizadores secundários, protegendo a articulação, ao reduzir a carga sobre o ligamento reconstruído.

Além disso, o trabalho de propriocepção (a capacidade de perceber a posição do corpo no espaço) ajuda a recuperar o controle motor fino, que é vital para evitar novos acidentes durante a prática esportiva.

Nos últimos anos, a importância da condição muscular para o retorno ao esporte tem aumentado. Sabe-se que ela influencia de forma significativa nas chances de nova lesão após a retomada esportiva. Por isso, tendemos a esperar um ganho adequado de massa muscular para liberar o paciente ao esporte, o que ocorre por volta do nono mês de reabilitação. É importante salientar que lesões associadas podem alterar a previsão inicial de retorno a prática esportiva.

Como ocorre o retorno ao esporte

Com a cirurgia bem-sucedida e uma reabilitação completa, muitos atletas retornam ao mesmo nível de competição que tinham antes da lesão. Esportes que envolvem movimentos bruscos e de mudança rápida de direção, como futebol, basquete e tênis, apresentam um risco maior de lesões, mas, com os devidos cuidados, é possível retornar a essas atividades.

O retorno é sempre orientado a ser realizado de forma progressiva, no entanto, o risco de uma nova lesão existe e varia conforme o esporte e o histórico de saúde do atleta. A atenção aos movimentos e a manutenção de uma rotina de fortalecimento muscular são medidas recomendadas para minimizar esse risco.

Conclusão: Sim, é Possível!

Com a abordagem correta — cirurgia, reabilitação adequada e manutenção de um regime de fortalecimento muscular — é possível retornar à prática de esportes após uma lesão do LCA.

Embora o processo de recuperação exija paciência e dedicação, muitos atletas conseguem retomar o nível de performance anterior à lesão. Para quem prefere minimizar riscos, atividades de baixo impacto oferecem uma excelente alternativa para manter-se ativo.

O mais importante é ouvir o próprio corpo, seguir as orientações dos profissionais de saúde e, acima de tudo, respeitar o tempo necessário para a recuperação completa. Assim, o retorno ao esporte pode ser seguro e bem-sucedido.